Tudo o que você precisa saber sobre BRUXISMO

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Bruxismo – Conceito

O bruxismo é uma repetida atividade muscular do sistema mastigatório, caracterizada pelo ranger ou apertamento de dentes, que ocorre em dois distintos momentos, no sono (bruxismo do sono) ou em estado de vigília (acordado).

Bruxismo – Etiologia

A etiologia do Bruxismo é multifatorial e complexa, relacionada a fatores neuropsicológicos (estresse emocional, traços de personalidade, injúrias cerebrais por traumatismo, alterações neurológicas) , a fatores morfológicos (maloclusões, forças musculares)  e a fatores culturais (acúmulo de tarefas desenvolvidas pela criança, estímulos luminosos e sonoros no quarto de dormir).

De uma perspectiva paleoantropológica, o ranger de dentes, característico do bruxismo do sono, pode ser uma adaptação com o propósito de manter os dentes afiados e esse comportamento pode ser mantido ao longo do curso de evolução.

Entre as alterações que podem comprometer o crescimento do complexo crânio-facial, o bruxismo é especial, devido a sua complexa etiologia e efeitos variados sobre o sistema estomatognático, pois pode causar danos à ATM, aos músculos, ao periodonto e à oclusão, além de desgastes dentais, cefaleias e dores nos músculos mastigatórios.

O bruxismo pode acometer a dentição decídua e a permanente, provocando desgastes mais severos nos dentes decíduos, devido as suas características morfológicas.

Bruxismo em Crianças

De modo similar ao adulto, a etiologia do bruxismo do sono em crianças é multifatorial, envolvendo elementos centrais e associações com disordens do sono. A literatura relata associação com ronco, sonilóquio (fala durante o sono) e pesadelos, desordens respiratórias  e estímulos ambientais . Esses fatores podem conduzir à fragmentação do sono e despertares noturnos  e modificar o relógio biológico infantil, podendo afetar a duração e qualidade do sono  encontraram significante associação entre o bruxismo do sono e menos de 8 horas de sono por noite.

Há relação entre a presença de ruído articular e bruxismo, e a presença de ruídos articulares em crianças com bruxismo estaria associada à progressão e severidade de sintomas.

Alguns autores apoiam-se no conceito de que o bruxismo em crianças seja fisiológico.

O Bruxismo e a Apnéia Obstrutiva do Sono

Alguns pesquisadores tem sugerido que o bruxismo do sono pode ser um mecanismo protetor, em adultos, na presença de apnéia obstrutiva do sono. Assim pode ser levantada a hipótese de o Bruxismo estar relacionado a distúrbios respiratórios.

Características dos pacientes bruxômanos

O bruxômano tende a apresentar um perfil, com traços de personalidade relacionados à alta responsabilidade, dificuldade de lidar com a agressividade (neuroticismo) e estresse . Existe grande fundamento para a teoria de causas psíquicas como etiologia do bruxismo. Sabe-se que existe clinicamente, um grau muito maior de ansiedade e angústia, com sintomas nervosos, em indivíduos com bruxismo quando comparados com os não bruxômanos.

O bruxismo do sono é relatado como moderadamente associado com comportamentos parafuncionais e estresse. Asssim como questões psicossociais podem desencadear a liberação de tensões diárias, através do bruxismo do sono crônico.

Bruxismo – Prevalência

A prevalência do bruxismo do sono em escolares varia de 3,5 a 40,6%, de acordo com a faixa etária, gênero e metodologias utilizadas em pesquisas.

Bruxismo – Diagnóstico

O contato forçado dos dentes, no bruxismo, envolve movimentação mandibular com sons desagradáveis. O exame clínico deve incluir a verificação de sinais como desgaste dental anormal, estalos ou dor na ATM, tonicidade dos músculos faciais e questionamento aos pais sobre hábitos da criança ( se range dentes enquanto dorme).

Revisões críticas da literatura sobre o bruxismo do sono falharam em suportar a existência de associações entre o bruxismo do sono e disordens na saúde oral.

Foi definida uma classificação diagnóstica para fins clínicos e pesquisa, uma vez que o conhecimento sobre os aspectos clínicos do bruxismo ainda está fragmentado devido aos diferentes critérios diagnósticos utilizados nos estudos. Sendo o diagnóstico de “provável” bruxismo do sono (PBS) baseado no relato do responsável associado à inspeção por meio de exame clínico.  Embora a polissonografia (PSG) seja o padrão-ouro na confirmação do diagnóstico do bruxismo em adultos, há falta de evidências para recomendação desse exame no diagnóstico de BS em crianças. Além disso, estudo prévio demonstrou que o relato dos pais/responsáveis do sobre ranger e/ou apertar dentes de seus filhos eram coincidentes com a PSG em mais de 83% dos casos quando os pais/responsáveis estão cientes e informados sobre os sinais e sintomas de BS, reforçando a necessidade de melhorar as informações e compreensão dos pais sobre o tema.

Bruxismo – Tratamento

Considerando-se que a etiologia do bruxismo é multifatorial, as diferentes formas de tratamento devem ser individualizadas para cada situação.

O tratamento medicamentoso consiste em relaxantes musculares, tranquilizantes, sedativos e injeções de anestésico local diretamente na ATM e nos músculos. Placebos podem ser efetivos quando a etiologia for psicológica.

O desgaste dental gradual promovido pelo bruxismo é compensado pela erupção contínua do dente, mantida constante a dimensão vertical. Porém, nos casos que o desgaste dental ocorre mais rapidamente, promovendo perda de dimensão vertical, é necessário procedimento restaurador.

Os miorrelaxantes, principalmente os benzodiazepínicos, podem ser utilizados rotineiramente, especialmente na fase inicial do tratamento.

A massagem e o calor úmido também têm sido utilizados para ativar a musculatura, aumentar a circulação e permitir a eliminação rápida de ácidos e outros irritantes metabólicos teciduais.

As placas miorrelaxantes são uma alternativa para apagar a memória da oclusão traumática, possibilitando equilibrar a oclusão e minimizar facetas de desgaste. Porém, têm efeito temporário e não excluem a atuação do dentista no sentido de recuperar a função/coordenação muscular. O uso de placas miorrelaxantes em crianças deve ser avaliado caso a caso, considerando que o profissional está lidando com um ser em crescimento e este tratamento pode causar iatrogenias.

A associação de traços de personalidade e bruxismo na infância sugere que o tratamento psicológico pode permitir que o indivíduo compreenda o seu modo de enfrentar conflitos ou tensão, e tenha um efeito no controle do hábito .

Conceitos emergentes sugerem que o bruxismo é um fenômeno comportamental que não necessariamente requer tratamento e possa, às vezes, ter um significado fisiológico.

Texto escrito por Patrícia Las Casas – Cirurgiã Dentista – CROMG 38166

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